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Só 9 estados crescem em português e matemática no ensino médio

Os resultados estão no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), divulgado nesta quinta-feira (30) pelo MEC (Ministério da Educação) do governo Michel Temer (MDB). Os números mostram os níveis de aprendizagem dos alunos ao fim de três etapas de ensino: anos iniciais (5º ano) e finais (9º ano) do ensino fundamental e ainda o ano final do ensino médio.

As notas dos dois ciclos do ensino fundamental melhoraram no ano passado, considerando as redes pública e privada de todo o país.

As provas foram realizadas em 2017. Esses resultados compõem, combinados com as taxas de aprovação das escolas e redes, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Tanto a avaliação quanto o índice são produzidos a cada dois anos. Os últimos dados disponíveis eram os de 2015.

Dessa vez, o governo Temer decidiu fatiar a divulgação dos resultados, o que rendeu críticas de especialistas. Dessa forma, o Ideb -principal indicador de qualidade da educação básica do país- será conhecido somente na segunda-feira (3). Não foram disponibilizados até agora dados das redes municipais, que concentram a matrículas do ensino fundamental, nem as informações por escola.

Os números apresentados da avaliação federal indicam, mais uma vez, que o ensino médio tem os resultados mais preocupantes entre as séries avaliadas. As redes estaduais concentram mais de 80% dos alunos de ensino médio do país.

Na média das redes administradas pelos governos estaduais, mais uma vez o desempenho caiu em matemática e em língua portuguesa. É a quarta queda consecutiva em matemática.

Essa disciplina teve média de 259 (considerando o desempenho de alunos das redes estaduais). De acordo com a escala de proficiência do Saeb, os estudantes não seriam capazes, por exemplo, de fazer cálculos simples de probabilidade. O índice considerado adequado é 350, segundo classificação do Movimento Todos Pela Educação.

Em língua portuguesa, a nota média também foi de 259. Já nessa disciplina o índice adequado é 300. Ao fim do ensino médio, a maioria dos alunos não seriam capazes de, por exemplo, identificar informação implícita em textos como poemas modernistas.

Ainda em língua portuguesa, o estado que obteve o maior avanço na nota foi o Ceará (passou de 248 em 2015 para 259 em 2017), mas ficou apenas no patamar da média nacional. Em matemática, o destaque é o Espírito Santo, que ganhou quase dez pontos.

Em entrevista na manhã desta quinta-feira, o ministro da Educação, Rossieli Soares da Sila, classificou o ensino médio como falido e catastrófico. “Os resultados demonstram o quanto o ensino médio não está agregando ao jovem brasileiro. Por isso documentos como a Base [Nacional Comum Curricular] são importantes para diminuição das desigualdades e saber onde a gente quer chegar”. disse.

A rede do Espírito Santo lidera o ranking do ensino médio nas duas disciplinas. Tem a maior nota em matemática, de 281, entre todas as redes estaduais do país pelo segundo ano consecutivo. Passou o Mato Grosso do Sul em português e chegou a 277. Mesmo com o avanço, a média da rede também fica abaixo do nível considerado adequado.

A Secretaria de Educação do Espírito Santo ressaltou o trabalho feito nas 32 escolas de tempo integral. O modelo educacional (com aulas das 7h30 às 17h) inaugurado em 2015 no estado atende 20 mil alunos da rede. O modelo trabalha o protagonismo dos estudantes, com o objetivo de combater um dos dramas do ensino médio: a falta de sentido dos conteúdos.

“É um processo que a escola desenvolve autoconhecimento: quem eu sou? O que já vivi? Com o que me identifico? O que quero? Ajudamos a se estruturar por metodologias para definir sonhos e uma trilha a ser seguida no futuro”, diz o secretário de Educação, Haroldo Rocha. “A diferença é que acolhemos os jovens.”

Como escolas de tempo integral exigem mais recursos, o modelo só chegou a uma mínima parcela dos alunos do estado, o que é alvo de críticas: menos de 8% dos 260 mil alunos da rede estadual estão no sistema -o restante continua em escolas públicas convencionais.

Diante do gargalo nacional do ensino médio, os indicadores de aprendizagem não são os únicos indicadores dessa crise. A etapa tem uma de evasão de 11% no país, chegando a 13% na região Norte. Cerca de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola.

Para o educador Mozart Neves Ramos, o ensino médio “é como um paciente na UTI”, mas sem que se saiba bem o remédio”. Ramos reforça, no entanto, a importância de a etapa ter uma base curricular.

“O resultado coloca mais uma vez para os futuros governantes uma preocupação emergencial para a questão do ensino médio no Brasil: não dá mais para continuar sem uma mínima unificação que a base pode oferecer”, diz ele, que é diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna.

A Base Nacional Comum Curricular define o que os estudantes da educação básica devem aprender a cada etapa. A parte da educação infantil e do ensino fundamental já foi finalizada e tem sido discutida nos estados e municípios.

Já o bloco do ensino médio continua em discussão no CNE (Conselho Nacional de Educação). A versão entregue pelo governo ao órgão tem sido fortemente criticada e, pressionado, o MEC se comprometeu a melhorá-la.

A definição da base tem ligação direta com a reforma do ensino médio, aprovada por medida provisória pelo governo Temer em 2016. A reforma prevê flexibilização curricular e só passa a valer depois da aprovação da base.

Com a reforma, o ensino médio passa a ser organizado com uma área comum, referente a 60% da carga horária, e uma segunda parte a ser escolhida pelo aluno a partir de cinco áreas: ciência humanas, ciências da natureza, matemática, linguagens e educação profissional.

Essa flexibilização curricular sempre foi apontada com um dos caminhos para melhorar o ensino médio. Há receio, entretanto, sobre a capacidade de todas as escolas e redes oferecerem uma variedade de itinerários, dado opções a todos os alunos. Mais de metade dos municípios do país só tem uma escola de ensino médio, dificultando a oferta de cinco opções para os estudantes.

Professor da Universidade Federal Fluminense, Paulo Carrano também lança mão da metáfora médica para comentar a etapa. “O governo acaba fazendo um diagnóstico acertado, o ensino médio está com problema, mas apresenta um remédio precário”, diz ele, referindo à base e à reforma do ensino médio.

“É uma rede que cresceu recentemente para amplas maiorias e que não se adaptou, não se investiu, não se construiu laboratórios, a rede não se instrumentalizou”, diz ele, que é pesquisador do Observatório Jovem da federal. “Não adianta dizer que vai melhorar só porque vai fazer arranjo curricular ou lei do ensino só para institucionalizar a desigualdade”.

Fonte: Diário de Goias

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