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Piauí é o estado do Nordeste com menor percentual de mulheres prefeitas

Um relatório divulgado na última semana pelo Instituto Alziras revelou dados significativos sobre a participação feminina em executivos municipais de todo o país. Enquanto a média nacional de mulheres ocupando prefeituras é de 11,7%, no Piauí esse percentual é de apenas 9,8%, a menor entre todos os estados do Nordeste, que proporcionalmente lidera a estatística, com 16% de representantes eleitas.

O estudo “Perfil das Prefeitas no Brasil 2017-2020” ainda revelou características importantes sobre as gestoras. Dos 224 municípios piauienses, apenas 22 são comandados por mulheres, destas, 44% possuem ensino superior ou técnico completo e 56% são pós-graduadas em suas áreas de formação.

Exemplo disso é a cidade Colônia do Gurguéia, localizado a pouco mais de 500 km da capital Teresina, e que tem Alciene Alves Araújo (PT) a frente da prefeitura do município que, segundo o último censo do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem uma população estimada em 6.451 pessoas.

Ela estava grávida de oito meses em 2016, quando disputou o cargo contra outra candidata mulher. Ao assumir o Executivo municipal, substituiu outra prefeita. Por conta disso, ela comenta não sentir discriminação, já que além dela, o município conta com mais duas vereadoras. Para ela, o desafio foi outro. “Não era envolvida com a questão de política partidária, era enfermeira, nunca tinha sido candidata nem a presidente de associação”, conta.

Os dados foram resultado de um questionário aplicado, presencial e à distância, em quase metade todas as 649 prefeitas eleitas na eleição municipal de dois anos atrás. No total, apenas 298 foram validados e generalizados para todos os municípios, com auxílio de uma equipe de estatísticos. A margem de erro da pesquisa é de 5%, de acordo com o Instituto Alziras.


Considerando toda trajetória da política estadual piauiense nenhuma mulher conseguiu ser eleita governadora. Foto: O DIA

Mulheres nunca foram eleitas em nenhuma das três maiores cidades do Estado

De acordo com informações atuais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a maior parcela do eleitorado das cidades de Teresina, Parnaíba e Picos, é feminina: 54%, 53% e 52% respectivamente. No entanto, nunca uma mulher conseguiu ser eleita prefeita em nenhum destes municípios piauienses.

Sejam intendentes nomeados pelo Governo Federal ou candidatos eleitos através do voto, direto ou indireto, a capital Teresina, maior cidade do Estado, teve, desde a proclamação da República em 1889 até hoje, 53 homens se alternando à frente do poder municipal.

A mesma coisa acontece em Parnaíba, segunda maior cidade do Piauí que de 1893, quando o chefe do Executivo local era Feliciano Gomes de Farias (PPR), intendente eleito pela Câmara de Vereadores local, a 2016, quando o atual prefeito Mão Santa (SD) foi sagrou-se prefeito com 45,5% dos votos válidos, teve 38 homens no comando de sua prefeitura.

Já em Picos, que também conta com 38 gestores municipais homens ao longo de toda sua história política, há uma pequena exceção, já que entre 15 de março de 1948 e 21 de abril do mesmo ano, a cidade foi comandada por Maria Portella Marcílio (UDN), secretária municipal que ocupou o cargo interinamente, única mulher a ocupar o posto de prefeita no município.

Governadores

A prevalência masculina no Poder Executivo não é um exclusividade dos municípios, já que considerando toda trajetória da política estadual piauiense nenhuma mulher conseguiu ser eleita governadora. Porém em 2015, durante viagem internacional do governador Wellington Dias (PT), a então vice, Margarete Coelho (PP), tomou posse temporariamente, tornando-se a primeira no Estado a mulher a ocupar o cargo.


Alciene Alves Araújo (PT) é a prefeita da cidade de Colônia do Gurguéia. Foto: Reprodução

Dados nacionais afirmam que prefeitas eleitas abrem espaço para maior participação feminina

Michelle Ferreti, co-diretora do Instituto Alziras e mestre em ciências sociais, afirma que a ideia de traçar um perfil das prefeitas brasileiras veio logo após as eleições de 2016, quando o percentual de mulheres eleitas para o cargo em todo o país caiu em 3%. “Queríamos entender um pouco quem eram essas mulheres, para poder valorizar o trabalho delas, mas também para entender as dificuldades que elas vivem e entender as prioridades de suas gestões”, comenta.

Além de dar visibilidade à gestão feminina, a pesquisa problematizou outros pontos da realidade vivenciada pelas prefeitas. De acordo com as respostas dada aos questionários aplicados, 53% das mulheres entrevistadas relataram ter sofrido algum tipo de agressão ao longo de toda sua vida política. Além disso, outras 48% se queixaram de dificuldades para conseguir recursos financeiros para campanha eleitoral.

O relatória também constatou que a questão de representatividade feminina é importante em muitos aspectos. 55% das prefeitas entrevistas formaram sua equipe de governo com uma participação feminina mínima de 40% em seus secretariados. Além disso, 69% das gestoras desenvolvem algum tipo de ação específica para as mulheres.

“Ter uma mulher em um espaço de poder é importante porque na medida em que se desenvolvem políticas, elas também trazem sua experiência de ser mulher no mundo, sua perspectiva singular. Então suas políticas são mais afinadas e mais sintonizadas com a condição das mulheres no mundo (…) olhamos para o grupo de mulheres eleitas e o que percebemos é que elas abrem espaços para outras mulheres”, afirma Michele.

Alziras

O nome da organização é uma homenagem a Alzira Soriano, política do Rio Grande do Norte, primeira mulher a conseguir ser prefeita de uma cidade na América Latina e a primeira do país a ser eleita para um cargo público. “O Instituto Alziras é uma agremiação criada para contribuir para ampliar a representação feminina na política, apoiando o mandato e candidaturas de mulheres no Brasil”, explica Michele.

Edição: Luiz Carlos de Oliveira
Por: Breno Cavalcante

Fonte: O DIA

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