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Adoção tardia muda trajetória de crianças e famílias

A psicóloga Luciênia Martins é uma das mães que teve a vida transformada ao adotar três crianças fora dos padrões preferenciais. A mãe de Taynara Lucy, de 11 anos, Camila Ênia, de 12 anos, e de Vinícius Marco, de 14 anos, conta que a decisão pela adoção tardia foi tomada após se sensibilizar e decidir por mudar o destino dessas crianças que possuem menos chances de serem adotadas.
“Eu não tenho nenhum problema biológico para engravidar, então seria não só uma experiência de eu me tornar mãe e do meu marido de se tornar pai, mas de dar um novo significado e mudar o destino e a trajetória de uma criança que cresceria em um abrigo. Na época em que fui adotar, até ouvi um termo muito triste, que uma pessoa do abrigo falou que eram crianças idosas, que são as crianças que têm mais de três anos e estão abrigadas e têm pouca possibilidade de serem adotadas”, declara.
A psicóloga, que decidiu pela adoção de dois irmãos, revela que é importante criar uma identidade da criança junto à nova família, para que o processo de adaptação seja realizado de forma saudável e bem sucedido. “A Camila tem uma parte do meu nome, a Taynara outra parte do meu nome e o Vinícius tem o nome do meu marido que é Marco Aurélio. E essas coisas que nós vamos construindo é muito importante para a formação da identidade deles, porque eles passaram tanto tempo sem identidade, sem pertencer à alguém que, quando alguém dá amor, impõe limites, isso se sobressai até no nome, é muito importante. Todos os rituais de passagem que são colocados pela nossa sociedade, para receber uma criança, a gente também fez com eles. Nós fizemos um chá de adoção, onde chamamos toda a família e todos os amigos para apresentá-los como nossos filhos; tudo isso é muito importante para uma adoção bem-sucedida e para um relacionamento saudável em família, para que isso aconteça da forma mais natural possível”, relata.
Irmãos consanguíneos 
De acordo com a psicóloga do Centro de Reintegração Familiar e Incentivo à Adoção (Cria), Socorro Mendonça, as crianças abrigadas, que possuem irmãos consanguíneos, acabam por desenvolver laços afetivos muito fortes com os irmãos, por serem a única referência familiar após a separação dos genitores.

(Foto: Arquivo Pessoal)

“Eles já foram penalizados de sair do que eles reconheciam e do que eles tinham como família, então o que fica como vaga noção de família são os irmãos que foram retirados junto com eles. E para que não se percam totalmente os laços familiares consanguíneos, eles precisam dessa união. Até porque, a maioria deles faz uma espécie de coesão, eles se ajudam e se agrupam de uma forma muito fortalecida; e aquele amor, que seria distribuído entre pais, mães, avós, fica só entre as crianças que são irmãs consanguíneas. O trauma já está instalado desde a separação da família consanguínea, desde os maus-tratos até o fato que culmina na separação de fato dos pais. Essa separação dos irmãos seria um agravante dentro da dor que eles já estão vivenciando”, explica a psicóloga.

Abrigos têm crianças e adolescentes acima do recomendado

O Cria é uma das instituições que promove e incentiva à ado- ção de crianças fora dos padrões preferenciais. De acordo com a coordenadora do Centro, Francimélia Nogueira, é importante que os pretendentes à adoção entrem em contato com as crianças e adolescentes que estão à espera de adoção e conheçam a realidade dos abrigos.
“Nós propomos, como apoiadores da adoção, reunir pessoas que já adotaram e pretendentes à adoção para discutirem e trocarem experiências, mostrando experiências que deram certo, situações positivas para fazer as pessoas refletirem acerca do perfl delas. Nós estimulamos as pessoas que querem adotar a visitarem as instituições de acolhimento, porque elas, ao chegarem lá, vão perceber as crianças reais e fugirem do que elas idealizam. Ao visitarem os abrigos, as pessoas podem se interessar por determinado caso de uma criança mais crescida e, muitas vezes, casais que estão cadastrados para adotarem bebês de até dois anos, ao visitarem essas instituições, acabam mudando os perfs e procuram a Vara da Infância e da Juventude para ampliar esse perfl”, conta.
A coordenadora do Cria revela que ainda existem abrigos em Teresina que possuem um nú- mero de crianças e adolescentes superior ao recomendado pelo Ministério do Desenvolvimento Social. “Em Teresina, nós temos abrigos com uma quantidade de crianças que é superior ao recomendado nas orientações técnicas do Ministério do Desenvolvimento Social. Todas as casas de acolhimento têm que ter, no máximo, até 20 crianças. Mas nós temos casos, em Teresina, com 40 crianças, ou seja, o dobro do que a legislação prevê e isso é muito ruim, porque mais difícil fca de dar o acompanhamento individualizado que essa criança precisa. A maioria dos abrigos estão reordenados, aceitando até 20 crianças, mas, mesmo assim, há grande carência afetiva nas crianças que estão em casas de acolhimento, porque uma instituição nunca vai poder dar e proporcionar o mesmo sentimento de pertencimento e a troca afetiva que uma família”, destaca.
Família Acolhedora 
O Cria também desenvolve o Projeto Família Acolhedora, que consiste no acolhimento familiar, previsto pelo ECA, em que famílias previamente selecionadas e capacitadas recebem uma criança ou um adolescente através da guarda provisória, com o acompanhamento do Cria, até que a Justiça decida a situação jurídica da criança, determinando que seja feita à restituição à família de origem ou a disponibilização para adoção. O prazo máximo para acolhimento é de dois anos, mesmo prazo para acolhimento institucional, podendo ser prolongado por decisão judicial.
Além disso, algumas casas de acolhimento também desenvolvem programas de apadrinhamento afetivo, em que as pessoas interessadas em se tornarem padrinhos ou madrinhas de coração das crianças institucionalizadas podem cadastrar-se junto às instituições para levar a criança para passear e ter momentos de lazer fora da instituição.
“A pessoa que quer ser um pretendente a padrinho ou madrinha de coração deve ir à instituição para falar com o nosso setor de Psicologia. Primeiro nós fazemos um cadastro da pessoa, a psicóloga marca uma entrevista e uma visita, e depois que a gente passa por esse processo e vê que a pessoa está dentro do perfl de padrinho ou madrinha aí que ele se torna apto a se tornar padrinho efetivo dessas crianças. Depois de todo o processo, após a autorização da casa e do Juizado, esse padrinho ou madrinha pode levar a criança para passear, para passar o Natal, feriado ou fnais de semana com a criança”, afrma Maria do Socorro, coordenadora do Lar da Criança Maria João de Deus

Edição: Virgiane Passos
Por: Nathalia Amaral – Jornal O Dia

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