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Por que os grandes festivais de música estão ficando todos iguais?

LCD Soundystem, Major Lazer, Ellie Goulding, M83, Foals, Tame Impala, Flume, Haim, The Last Shadow Puppets. O cartaz do Lollapalooza de Chicago, que chega aos 25 anos neste fim de semana, pode parecer uma sopa de letrinhas incompreensível para quem não acompanha o cenário da música dita alternativa, mas olhando mais de perto é praticamente uma xerox do cardápio que oferecem outros grandes festivais do gênero espalhados pelo mundo, como Coachella, Bonnaroo, Glastonbury ou Austin City Limits.

Idealizados e ainda vendidos como oportunidade ímpar para conferir o que tem de mais novo e descolado no pop, rock e eletrônico no planeta, grandes eventos como esses têm se tornado cada vez mais parecidos, tanto nos line-up quanto nas experiências oferecidas ao público. Como isso aconteceu?

A resposta está na dominação corporativa dos grandes festivais. Hoje, três ou quatro empresas controlam alguns dos maiores eventos musicais do mundo. Além do Lollapalooza, a Live Nation é dona do Bonnaroo, do Austin City Limits e do festival de música eletrônica EDC. A AEG Live é dona do Coachella, do Stagecoach e do Desert Trip, festival que acontecerá em outubro com Stones, Dylan, Roger Waters, The Who, Paul McCartney e Neil Young. A SFX é dona de dois imensos festivais de música eletrônica, Tomorrowland e Electric Zoo, e comprou 50% do Rock in Rio.

A mesmice é tanta que até o jornal “The New York Times”, que está longe de ser um baluarte da cena de música independente, desistiu de cobrir grandes festivais. Em artigo publicado em abril de 2016, três críticos musicais do jornal, Jon Pareles, Ben Ratliff e Jon Caramanica, anunciaram que não farão mais coberturas de grandes eventos como Coachella e Bonnaroo, preferindo festivais menores e de escalações mais ousadas.

“Em termos numéricos, festivais como Bonnaroo e Coachella são eventos importantes, atraindo 80 mil a 90 mil pessoas por fim de semana. Ainda são ritos de passagem para jovens universitários, mas não significam muito para críticos musicais”, diz o artigo. “Suas escalações costumavam ser excitantes, se excitante significa especial, e especial significa raro, e raro significa relevante. Mas não são mais. (…) Festivais são um negócio grande demais para não ser homogeneizado e adaptado ao ‘mainstream’. Nenhum cliente em potencial pode sair insatisfeito.”

Mercado de shows

A padronização dos festivais de música é um fenômeno recente, e tem a ver com a maneira como a indústria da música passou a enxergar o mercado de shows a partir da virada do século 21.

No início dos anos 2000, houve uma queda imensa na venda de discos, causada principalmente pela internet. Segundo estudos, a indústria do disco perdeu dois terços de seu valor entre 2000 e 2012. Com isso, grandes empresas ligadas à música se bandearam para um mercado antes dominado por produtores independentes: o mercado de shows.

Corporações como Live Nation, SFX e AEG Live começaram a comprar teatros, assinar artistas e adquirir festivais de música. O número de eventos desse tipo cresceu, assim como o valor dos ingressos. Festivais ficaram cada vez maiores e mais caros, e a concentração de renda aumentou. Hoje, cerca de 90% do faturamento com shows em todo mundo vão para apenas 5% dos artistas mais famosos.

Nem sites como o Pitchfork, bíblia dos “indies” antenados, escapou dos bolsos fundos das grandes empresas. Em outubro do ano passado, o Pitchfork foi vendido para a gigante de mídia Condé Nast, que publica títulos como “Vanity Fair” e “Vogue”.

A dominação corporativa nos maiores festivais de música, embora crescente, não é absoluta. Há exemplos de eventos grandes e que ainda são geridos de forma independente, como o Roskilde (Dinamarca) e Primavera (Barcelona), festivais que geram milhões de euros, doam os lucros para causas sociais e têm grande impacto no turismo de suas respectivas regiões.

 

Fonte: uol

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