Em junho, celebra-se o Mês do Orgulho LGBTQIA+ e o g1 realiza uma série de reportagens com temas relacionados ao movimento. O tema deste domingo (12) é a associação da síndrome da imunodeficiência adquirida (aids) a membros da sigla quando a doença se tornou conhecida, nos anos 80, e como mesmo hoje ainda existe um estereótipo equivocado que afeta essa parcela da população, prejudicando inclusive o acesso à saúde.
A origem da aids
Vírus HIV — Foto: Getty Images/Via BBC
O HIV (sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana) é o causador da aids. O vírus surgiu de outro vírus encontrado no sistema imunológico de macacos na África e foi se espalhando gradualmente pelo mundo a partir da década de 20.
A doença passou a ser conhecida depois de um período conhecido como revolução sexual, que teve auge nos anos 60, quando parte da sociedade desafiou a moral da época exercendo, por exemplo, a liberdade de ter relações casuais e o uso de métodos contraceptivos.
Após esse período, a comunidade gay viva um momento de afirmação, no qual muitos sentiam liberdade de assumir sua afetividade e ter uma vida sexual ativa o que favoreceu a disseminação do vírus, que é sexualmente transmissível.
As estratégias de HIV/Aids da Austrália no final da década de 1980 foram elogiadas em todo mundo — Foto: Getty Images/Via BBC
No fim dos anos 70 e início da década de 80, foram registrados vários relatos de sintomas semelhantes em gays nos Estados Unidos e, em seguida, em diversos outros países.
Nesta época, a aids chegou a ser chamada de câncer gay, doença gay e GRID, sigla em inglês para Doença Relacionada a Gays. Mais de 40 anos depois, mesmo com homossexuais não sendo mais considerados um “grupo de risco” em relação ao HIV, o estigma permanece e afeta não só gays, como travestis, transsexuais e outros membros da comunidade LGBTQIA+.
O acesso à saúde
O psicólogo Breno Ferreira, que é doutor em saúde coletiva, contou ao g1 que essa associação do HIV/aids a alguns grupos da comunidade LGBTQIA+ nessa época deixou consequências até hoje, que, além de outras questões, dificulta que essa parcela da sociedade procure serviços de saúde e/ou tenha uma experiência adequada.
“Os profissionais de saúde ainda associam que o cuidado em saúde para essa população é quase voltado para cuidar de HIV/aids, como se as relações sexuais e relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo ainda fosse um índice de transmissão”, afirmou.
De acordo com o pesquisador, a orientação sexual e a identidade de gênero são determinantes sociais em saúde. “Influencia na hora de você cuidar da sua própria saúde, no acesso aos serviços de saúde, na forma como os profissionais cuidam e nas políticas de saúde”, disse.
“Ocorre que essa população é atravessada por um conjunto de condutas de violências e os serviços de saúde podem reiterar dentro dos atendimentos, quando, por exemplo, deixa-se de entender as particularidades de um exame papanicolau ou um exame ginecológico para as mulheres lésbicas ou quando se não se adota o uso do nome social em um prontuário para uma pessoa trans. Essas violências, ou formas reiteradas de violência, também acabam gerando questões de saúde mental para essa população“, completou.
Segundo o psicólogo, outras questões podem dificultar o acesso de parte dessa população aos serviços de saúde. “Pode ser uma questão geográfica, a população mais pobre e vulnerável pode não conseguir chegar até a unidade. Mas também tem a questão institucional mesmo. As políticas parecem não incluir. É quase que um protocolo único para mulher, por exemplo, independente de ser uma mulher cis, trans ou lésbica. O modelo é heteronormativo”, afirmou.
CONTEUDO: G1 PIAUI