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Historia do Rio Caatinguinha de Valença do Piaui

A Historia do Rio Caatinguinha, se confunde com a Historia da cidade de Valença do Piauí. Nasce na localidade Olho D’água,  a 1 Km da zona urbana da cidade de Valença do Piauí, tem como base as coordenadas geográficas:  06º 24’ 22.2’’ Latitude e 44º 44’ 58.8’’ Longitude Datum Sirgas 2000 MC 39º000’.

Segundo, Reginaldo Miranda: (2008-36), por volta de 1664, um grupo de bandeirantes se estabeleceu nas margens do Rio Santa Catarina, onde fundaram o Arraial dos Paulistas, sob o comando do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho. “Nos escombros da povoação foi erguida a atual cidade de Valença do Piauí.”

Santa Catarina, era o nome antigo do Rio Caatinguinha, cuja substituição pode ter ocorrido pelo próprio grupo de Jorge Velho, uma vez que era comum mudarem o nome dos rios. O próprio Jorge Velho, mudou o nome do rio Paraguaçu, para Parnaíba, em homenagem a sua terra natal Santana do Parnaíba em São Paulo. O mesmo pode ter ocorrido, com o rio Santa Catarina, mudar o nome para Caatinguinha, em homenagem  ao rio Catinga, situado na mesma região de onde vieram os bandeirantes.

Revendo autores com trabalhos dentro da Historia do Piauí, muitos mencionam o rio Caatinguinha como referência geográfica para o Arraial de Nossa Senhora da Conceição ainda no início do século XVIII, bem como um período que, o próprio Arraial de Nossa Senhora da Conceição, foi chamado de Arraial do Caatinguinha até o dia da instalação da Vila de Valença, no dia 20 de setembro de 1762.

A partir da instalação da vila, o rio Caatinguinha tornou-se grande referência para os habitantes locais e transeuntes que por aqui passavam. Suas águas serviam para o consumo doméstico, saciar a sede dos animais silvestres e nas margens era comum a utilização das águas para irrigar as vazantes no período do estio.

Com o passar do tempo, foram surgindo os proprietários, cada um demarcando seus espaços ao longo de seu trajeto até a confluência no rio Tranqueira no Sítio Veneza.

Estudos apontam que a estrada Real e/ou Geral, que interligava o norte ao sul, da Capitania do Piauí, passa na margem esquerda, funcionando como parada obrigatória dos Tropeiros, viajantes e andarilhos desde o período colonial, ou mesmo para moradores próximos das Comunidades: Isidória, Buritizal, Fumal e Comboeiro.

A proximidade com o perímetro urbano, favoreceu a criação de uma afinidade com os moradores que procuravam suas nascentes para o banho diário ou mesmo como lazer, atraídos pela exuberância da paisagem, os poços profundos e o micro-clima oferecido. Eram, homens, mulheres e crianças que frequentavam diariamente as nascentes do Rio Caatinguinha.

As várias transformações ocorridas na povoação onde atualmente é Valença do Piauí, foram testemunhadas pelo Rio Caatinguinha, se em tempos remotos aqui foi o arraial que levava o seu nome, mais tarde chamado de Vila de Valença, nem mesmo a elevação da vila a categoria de cidade em 1889, o rio Caatinguinha deixou de exercer seu papel como referência sócio econômica e histórica nesta cidade.

Em 1922, o poeta João Ferry, fez o soneto Minha Valença, tendo o rio Caatinguinha como base., como expressa na primeira estrofe.

Minha Valença, é como uma rainha,

Exilada no centro dos Sertões

Corre em seu seio o riacho Caatinguinha

Que a dívide em dois meigos corações.

Em 1924, o Major Inácio Barbosa, finca uma roda d’água, no leito do Rio Caatinguinha para gerar energia elétrica para sua residência, no Sítio Canadá.

Em 1932, o Prefeito municipal Abimael Rocha, vendo o desenvolvimento da cidade e a dificuldade das pessoas no translado de água para suas casas, mandou cavar um poço para atender as famílias mais necessitadas. O local escolhido foi as Cacimbas, onde moradores próximos já tinham seus buracos para retirar a água para o consumo diário. Dentre eles, a cacimba escolhida para ser adaptada como poço, foi a da Dona Chiquinha, esposa do Sr. Anfrísio. Este local ficou conhecido por Poço da Prefeitura, ainda existe ao lado da residência da Professora Iolanda Pereira, no atual Bairro Cacimbas. O referido Poço é tombado pelo Patrimônio Histórico Cultural de nossa cidade desde 2002.

Com a construção do Poço das Cacimbas, o rio Caatinguinha, perdeu muitos de seus frequentadores, devido a distância que ficava das casas.

Os moradores, das atuais ruas: Aníbal Martins, Areolino de Abreu, Arlindo Nogueira, Engenheiro Elesbão Veloso, São João, São José, Cícero Portela, embora não fossem ainda abertas as ruas, mas de forma fragmentada existiam moradores, passaram usar as águas do Caatinguinha apenas para lavar roupas.

Da década de 1930 até o início da década de 1960 do século XX, foi um período áureo do Lazer nas nascentes do Caatinguinha, onde jovens da elite local buscavam o local para o banho, mas seguindo os princípios da ética, da moral e do respeito e dos bons costumes. No próprio espaço existia, um local destinado para os homens e outro espaço para as mulheres, além de ficar um guardião para avisar se podia passar ou não. A cena se repetia todos os dias no rio Caatinguinha.

No final da década de 1940, existia nas imediações do Bairro Cacimbas, um local de Lazer chamado de Nova Descoberta, muito procurado pela juventude de época, existindo assim um desvio de atenção dos frequentadores assíduos das nascentes do rio Caatinguinha.

No início dos anos 1960, na Quinta dos Martins, situada próximo ao Sítio Canadá, o casal Zé Tito e Benta, construíram uma bica aproveitando água do rio Caatinguinha. O local, tornou-se mais uma opção de lazer para os moradores da cidade e como tinha bebidas e tira gosto, muitos dos frequentadores do Caatinguinha, ficavam pós lá mesmo.

Segundo o Sr. Chico Gabriel, na década de 1940, ainda existiam muitas árvores frondosas nas suas imediações, como também animais e aves silvestres. Dentre os animais ele citou o bicho preguiça e quanto as aves a Seriema. Para preservação, era proibido caçar e se alguém persistisse era preso. Quem ousasse cortar uma árvore, até mesmo uma vara para cabo de vassoura, era preso. Mas como tudo que existe tem seus momentos, com o rio Caatinguinha, não foi diferente.

Em abril de 1956, o poeta valenciano João Ferry, fez o soneto: Meu Poço Azul.

Meu poço azul da minha meninice,

Todo ensombrado de árvores frondosas

Quem foi que te contou, quem foi que te disse

Que eu te esquecia nas manhãs formosas?…

Trepado num cipó, sem gabolice,

Em balanços de curvas perigosas,

Eu saltava-ti-bun-go! Aí que doidice,

No mergulho das águas vaporosas!

Depois, um dia, quando envelhecido,

Procurei teu regaço abençoado

Para o banho – Meu Deus, quantos abrolhos!…

Meu poço azul, havia sucumbido!

Tudo era morte, mas voltei banhado,

Com as lágrimas do poço dos meus olhos!.

Observa-se neste soneto, que em 1956, o rio Caatinguinha, já estava num estágio agravante.

Em 1962, quando o Prof. João Calado, escreveu o Hino de Valença, buscou inspiração no rio Caatinguinha:

Às margens do rio Caatinguinha

Cercadas de mil matagais

Está Valença dos encantos

Altiva, forte e sem rivais.

Com o tempo, o Rio Caatinguinha foi ficando em segundo plano, ocasionando pelas novas opções de Lazer da cidade; Outros porque foram estudar em outros centros ou mesmo residir, em outros lugares distantes, restando apenas a memória. O rio, ficou visitado por um número reduzido de pessoas e por Lavadeiras de roupas. Com isso o poder público municipal também se esquivou, dispensando apenas um olhar menos convergente para o rio e sua permanência de vida.

Muitas tentativas foram feitas para o resgate. Todos querem salvar, mas ainda falta um olhar científico para tanto. “Uma coisa é certa: Morrendo o rio, morre o homem e não temos historia”.

PONTOS DE REFERÊNCIA DO CAATINGUINHA

01-Nascente: Local Olho d’água.

02-Estrada Real

03-Pedra do Defunto

04-Poço Azul

05-Sítio Canadá, onde existia uma moenda.

06-Roda d’água para produzir energia elétrica.

07-Passagem da Doca (Beco).

08-Ponte Antiga

09-Ponte atual

10-Betel

11-Confluência no rio Tranqueira

Conteúdo: Professor Antônio José Mambenga

Foto e Edição: Raimundo Barbosa

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